Este ano o tempo ajudou, sem
chuva e sem temperaturas baixas, e o Mercado Municipal de Vila Pouca de Aguiar recebeu
cheiros, sabores e tradição. Na Feira de produtos de Outono o destaque vai para
a castanha e o cogumelo com diversos produtores a exporem as suas melhores
colheitas aos visitantes. Também outros produtos de outono são acrescentados
nas bancas, como mel, compotas, fumeiro, havendo ainda espaço para outros
produtos da terra como cebolas, abóboras, batatas, tomates, dióspiros,
pimentos, kiwis, avelãs, nozes, e até coelhos ou galos, proporcionando aos visitantes
a oportunidade de adquirir variados produtos típicos desta estação do ano.
Maria de Lurdes Jeremias é
produtora de “tudo o que o campo dá”, salientando os produtos da época, “a maioria
agora é a castanha, e os cogumelos”. Além destes, trouxe ainda “um bocadinho de
tudo, tenho fruta, tenho couve, alface, chuchu, dióspiro”. É habitual trazer
cogumelos, mas este ano o tempo mais seco não ajudou. “Este ano, derivado ao
tempo que foi muito seco, ainda só choveu há uma semana, não foi o suficiente
para eles começarem a rebentar. Ainda não há cogumelos silvestres”. Maria de Lurdes
Jeremias acredita que dentro de uma semana já deve poder apanhar os seus cogumelos.
Em comparação com o ano passado, deu-se a situação contrária. “Choveu mais
cedo” pelo que a apanha se deu mais cedo e, para a feira, já poucos cogumelos
levou, não sendo também o cenário habitual dos anos anteriores, em que tem na
sua banca uma boa quantidade de cogumelos.
Quanto à produção da castanha, a
produtora avançou que “a qualidade da castanha judia mantém-se, há menos, mas é
muito boa. A [castanha] longal saiu mais pequena, derivado à seca. Já os
antigos diziam que a castanha gosta de ferver no agosto e beber no setembro”,
conta. Neste sentido, considera que o tempo é um dos maiores desafios dos
agricultores.
Devido às condições
meteorológicas, e para aquisição de cogumelos, os visitantes tiveram de
recorrer à única banca que os tinha, da produtora Cidália Afonso, que tem
estufas. Apresentou nesta feira “duas vertentes, a primeira é o cogumelo shitake,
em modo de produção biológica. E depois trouxemos a castanha, porque é a nossa
princesa da festa aqui. Trouxemos também alguns frutos secos e o fumeiro”, tudo
de produção própria, explica.
A produtora refere
que há cuidados a ter na apanha do cogumelo. “Nós nas nossas estufas, com o
cogumelo shitake, calçamos sempre luvas e, por exemplo, se uma luva se rasgar,
temos que a trocar imediatamente, porque o cogumelo é um fungo e temos que ter
cuidados extremos”.
Sobre conselhos para
cozinhar os cogumelos, Cidália Afonso dá a sua sugestão, mas antes, há que prepará-los.
“É muito importante higienizá-los como deve ser, e pôr pouca água, porque
quanto mais água utilizar, mais o cogumelo vai absorvê-la e larga depois”,
perdendo também sabor. O ideal, aconselha, é “pegar num paninho húmido e limpar”.
Para a sua confeção, a produtora avança com uma proposta simples “e que eu
gosto mais, que é um bocadinho de azeite, alho e flor de sal, e já está”.
Passando para a
castanha, a feirante explica que “este ano não é tão bichosa, mas também é
pequena, porque houve muita falta de chuva e afetou-nos bastante, as produções
baixaram”. Cidália Afonso tem ajuda na apanha e, apesar de já serem pessoas de
confiança que “vêm trabalhar para nós de uns anos para os outros”, refere que é
difícil encontrar pessoas. “Ninguém quer trabalhar, o país está muito mal, há
falta de trabalho, mas as pessoas não querem, não procuram”.
Quando questionada
sobre o fumeiro, a produtora adianta que “há muita gente que já vem à procura, mas
as pessoas vêm cá para buscar a castanha e cogumelo, essencialmente, sem dúvida”.
Visitantes de Guimarães, Lisboa e até desviados da Feira de Chaves
Vindos de Guimarães
e de Lisboa estava um grupo com um laço familiar a uni-los, com dois primos. Paulo
Novais faz-se acompanhar de Rita Lobo e vieram de Guimarães e, embora costumem
“passar fins de semana aqui em Vila Pouca de Aguiar”, é a primeira vez na Mostra
Gastronómica e Feira de Produtos de Outono. Consideram a feira “muito
interessante, com produtos frescos e bastante apelativos”, e já tinham no saco dióspiros
e maçãs. Iam ainda comprar o “Mel do João”, cujo produtor conhecem há vários
anos, já confiando na sua qualidade. Rita Lobo acrescenta que já conheciam os
produtos “porque os meus pais já vieram várias vezes esta feira noutros anos, mas
nunca tínhamos vindo à feira experimentar”. Quanto à estreia, consideram que
foi muito positiva e recomendam a sua visita.
Ainda do mesmo
grupo, e diretamente de Oeiras, em Lisboa, estava o casal António e Margarida
Novais. Também já frequentadores de Vila Pouca de Aguiar aos fins de semana
para encontros familiares, é a primeira vez na feira. “É muito interessante esta
mostra de produtos regionais e com uma qualidade excelente”, refere Margarida
Novais que, apesar de não conhecer os produtos, percebe a qualidade dos mesmos
pelo “cheiro que quando se entra é maravilhoso”. Para Lisboa vão levar castanhas,
cebolas, kiwis e ainda iam comprar maçãs. Vindos da capital portuguesa, voltam
a salientar a qualidade e referem o preço dos produtos autóctones da região. “Em
Lisboa estes produtos não têm esta qualidade nem esta frescura. A castanha em
Lisboa está a seis euros e aqui está a três”. O casal acrescenta ainda que o
que os atrai em Vila Pouca de Aguiar é “a natureza, a paisagem e esta comidinha
boa”.
Já o casal Dora e
Fernando Rocha são de Viana do Castelo, tinham como destino a feira de Chaves,
mas, antes, pararam em Vila Pouca de Aguiar depois de verem um cartaz com a
indicação da feira na autoestrada. “Íamos de viagem em direção a Chaves e na
autoestrada vimos o placar da feira gastronómica aqui de Vila Pouca de Aguiar”.
Nunca tinham parado em terras aguiarenses e consideram os produtos “ótimos e
com ar natural” onde já haviam feito compras pela feira. “Comprei figos,
comprei nozes, maçã desidratada e os bolinhos de castanha”. Antes de retomarem
a rota original até Chaves, estavam com muitas expectativas em degustar o
cabrito transmontano. “Disseram que devíamos ir provar o cabrito e vamos
provar”.
Mostra Gastronómica
Na 23º edição da Mostra
Gastronómica foram 10 os restaurantes do concelho que se aliaram ao certame, apresentando
menus especiais destacando os produtos premium
que originam receitas, umas mais tradicionais e outras mais criativas. Entradas
como caldo de castanhas e míscaros, alheira com legumes e castanha, cogumelos
em tempura ou pataniscas de cogumelos fazem qualquer pessoa querer mergulhar
nesta Mostra Gastronómica. Aos habituais, mas sempre famosos, pratos de cabrito
assado com diversos acompanhamentos – batatinhas assadas, cogumelos cozinhados
de variadas formas, arroz de castanha ou míscaros – também a posta maronesa, a vitela assada, o
javali ou o polvo compõem os menus. Para finalizar a refeição temática, foram
apresentadas opções como pudim e tarte de castanha, folhado de castanha ou o
queijo com doce de abóbora.
Ainda no decorrer da XXIII Mostra
Gastronómica e Feira de Produtos de Outono, destaque para o Workshop de
Culinária “O Cogumelo e a Castanha em Arte”, com o Chef Marco Gomes, no dia 01
de novembro, sábado, cujos produtos utilizados foram os produtos rei do evento.
O Grupo de Cantares Aguavelames animou os visitantes durante a tarde e, já
depois de jantar, a Banda Remember – Tributo 80 e 90 ficou encarregue de animar
os presentes até ao encerramento da feira.
No dia seguinte, durante a tarde,
decorreu o tradicional Magusto Popular, acompanhado pelas Concertinas Morais e
Amigos, que atraiu mais visitantes.
Como já vem sendo tradição, os
trabalhos dos Jardins de Infância e dos alunos do 1º ciclo do concelho,
realizados em contexto escolar e em casa, estão expostos na Biblioteca
Municipal de Vila Pouca de aguiar até dia 18 de novembro.
Ângela Vermelho
Fotos: DR