MACNA acolhe mostra de Álvaro de Lapa, artista que pintava e escrevia ‘como exercício de liberdade’

O Presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz Ribeiro, e o Presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Manuel Ferreira da Silva, inauguraram na sexta-feira, 21 de novembro, no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, a exposição “Álvaro Lapa: Modernidade Platex”, que apresenta obras do artista oriundas da coleção de Serralves e de depósitos atualmente integrados na instituição. A mostra, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, integra o Programa de Exposições Itinerantes da Fundação, que pretende alargar o acesso à arte contemporânea a diferentes regiões do país.

Manuel Ferreira da Silva, Presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, destacou a forte ligação de Álvaro Lapa a Serralves, lembrando que o acervo da instituição reúne 36 obras do artista, e sublinhou a importância da parceria com Chaves, cidade que já acolheu sete exposições de referência no MACNA, incluindo nomes como Paula Rego, Helena Almeida, Fernando Lanhas e agora Álvaro Lapa.

Álvaro Lapa nasceu em Évora em 1939 e faleceu no Porto em 2006. O pintor e escritor concretizou a sua formação académica por via da filosofia e foi na qualidade de professor de Estética na Faculdade de Belas Artes do Porto que a partir de 1976 e durante mais de duas décadas, começou a deixar uma marca em gerações consecutivas de artistas.

O curador, Miguel von Hafe Pérez, afirmou que Álvaro Lapa é “um artista incontornável da arte portuguesa do final do século XX e início do século XXI”, sublinhando o seu percurso singular, marcado pela filosofia e pela relação com a literatura.

Era um autodidata, era uma pessoa que se definiu essencialmente na sua relação com a literatura. Em termos académicos, licenciou-se em Filosofia e foi a partir da Filosofia, e a partir das suas aulas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, que se afirmou como uma referência de várias gerações”, salientou.

Na sessão de inauguração da mostra, o Presidente da Câmara de Chaves defendeu a necessidade de uma distribuição “mais equitativa” da oferta cultural nos territórios do interior e apelou a uma maior aproximação das comunidades às instituições culturais, reconhecendo que os museus continuam a enfrentar desafios ao nível da participação do público.

Pretendemos continuar não só afirmar, a valorizar e a projetar a cultura muito centrada no nosso Nadir Afonso, propósito maior deste equipamento cultural, (…), mas precisamos de continuar um processo muito importante, porque sentimos que não estamos a conservar a mensagem e a cultura à população”, disse o autarca que abordou a necessidade de aproximar todos os professores do equipamento.

“Não temos registado um momento significativo de visitantes mesmo ao domingo de manhã, ainda que o acesso seja totalmente gratuito a este edifício, mesmo com exposições de artistas contemporâneos, de primeiro nível, embora isso não tem sido o atrativo suficiente. É verdade que temos muitos estudantes, muitos estudiosos, gente muito interessada, mas precisamos de provavelmente fazer esta osmose de forma mais intensa”, salientou deixando o desafio a todos.

Para Álvaro Lapa a pintura “não é uma vocação disciplinar, antes um meio, tal como a escrita, para uma inscrição no campo alargado da cultura, com constantes remissões ao território da filosofia e da literatura”, destaca a Fundação de Serralves.

O autor considerava a pintura e a escrita como um exercício de liberdade, uma forma de expressão, contra a opressão.

Álvaro Lapa é considerado uma referência “incontestável” no contexto português, não só pela “originalidade de uma linguagem plástica onde a palavra assume uma importância única, como pela libertação que convoca dos modelos convencionais”.

A exposição “Álvaro Lapa: Modernidade Platex” foi inaugurada na sexta-feira, numa parceria entre o município e a Fundação de Serralves e fica patente no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso até 14 de junho de 2026.

 

 

Sara Esteves

Fotos: Carlos Daniel Morais