Festival da Saúde Mental traz literacia em forma de arte a Vila Pouca de Aguiar

Ana Pinto Coelho é Diretora e Curadora do Festival de Saúde Mental que irá completar uma década de atividade consecutiva em 2026. O intuito do Festival é “fazer a promoção, prevenção e combate ao estigma e literacia em saúde mental através da área da cultura, ou seja, usar a cultura como plataforma para a promoção da saúde mental nas suas múltiplas disciplinas”. Na prática, o evento concretiza-se através do cinema, da dança, do teatro, da música, ou através de palestras, workshops e atividades que são adaptados consoante a idade do público a que se destinam, em consonância com as entidades locais e com a coordenação nacional das políticas de saúde mental. “Tem de ser um festival dinâmico”, frisa Ana Pinto Coelho.

“Temos que ir junto às comunidades”

A diretora do Festival de Saúde Mental refere que em Lisboa existe uma “configuração de festival bastante alargada, mas nos festivais itinerantes também vai sendo adaptado”. No caso de Vila Pouca de Aguiar, selecionaram o cinema, considerado o “coração do Festival”, como forma de difundir a informação pelos interessados que se podiam juntar às atividades de forma gratuita, através de mostras de curtas-metragens e filmes internacionais, e das M-Talks, ou seja, conversas temáticas. Todos os anos selecionam temas diferentes que reproduzem em livro, em edição própria, com a chancela do Festival Mental abrangendo diversas questões.

Em relação à importância do festival nas comunidades fora dos grandes centros, a responsável acredita que mais do que importante, é “uma urgência e devia ser uma coisa fixa, em que todos os anos já se sabe que naquela data o festival vai chegar”. A Curadora do Festival explica que este não é “um festival para a doença mental e sim de promoção da saúde no geral”.

Na sexta-feira, dia 12 de setembro, as curtas-metragens foram direcionadas aos jovens, com conteúdos adaptados a esta faixa etária. Apesar de serem filmes de curta duração com alguma diversão e humor, “está-se a falar de saúde mental em termos de promoção e de prevenção, de forma leve, pedagógica e interventiva, mas ao mesmo tempo desconstruída”. Posteriormente houve um momento de perguntas e respostas com o psicólogo clínico Sérgio Viana e com o produtor João Gata.

Uma outra vertente que tem sido explorada é o M-Natura “que é o Festival Mental fora de portas, fora de sala e de auditórios, para haver este paralelo, não só com cultura, mas com o ambiente (…) em que o contacto com a natureza funciona como uma promoção da nossa saúde mental”. Assim sendo, o dia 13 de setembro iniciou com a atividade ao ar livre “Emoções na Natureza: Stop Motion da Saúde Mental” que envolvia uma caminhada e um workshop. Da parte tarde seguiu-se uma nova mostra internacional de curtas-metragens, já dirigida a adultos que culminou na M-Talk: Bullying, Luto e Saúde Mental. Sob a moderação de Rita Santos, Jornalista, estiveram como convidados nesta conversa Sérgio Viana, Psicólogo Clínico, Ricardo Barroso, Psicólogo Clínico e Professor Universitário, Hugo Ferreira, Técnico Superior de Intervenção Cocial, e Vítor Leite, Pedopsiquiatra.

O Psicólogo Clínico Sérgio Viana é também representante da Ordem dos Psicólogos Portugueses no Festival e selecionador do mesmo, e faz um paralelo entre a saúde mental e as artes. “As artes são um veículo, por natureza e bastante nobre, para conseguir transmitir tudo o que nós pensamos, e são também uma ferramenta de sensibilização que permitem, pela criatividade, explanar e exprimir o que estamos a sentir e a pensar”. Sérgio Viana avança ainda que é essencial “perceber qual é o impacto das emoções do nosso dia-a-dia (…) e passar a mensagem, para quem está a ver, que se sinta identificado e também se sinta informado, porque isto também é um exercício de literacia”.

Perante a temática do suicídio, abordada no Festival, para o Psicólogo Clínico é perentório em defender a “sensibilização e a literacia” uma vez que “temos uma taxa de suicídio muito elevada”. Reforça que, na questão do suicídio ou intenção suicida, “temos que falar sobre ela para perceber o que é, porque quanto menos falamos, menos as pessoas estão informadas e têm que ser sensibilizadas, porque cada de nós pode passar por um momento desses”. Sérgio Viana defende ainda que “falar de suicídio é encontrar soluções para prevenir, ou evitar que se chegue a um patamar em que surge como uma opção”. Na opinião do Psicólogo Clínico, “o Festival Mental tem tido o condão de conseguir, cada vez mais, sensibilizar e acabar com os estigmas sobre problemas psicológicos” e recorda que é preciso “praticar a empatia” para com o outro e procurar ajuda médica quando é necessário.

Manuela Castanheira, é Vereadora da Ação Social e Saúde do Município, e como formação profissional é Médica de Família. Segundo a Vereadora, “é difícil, em qualquer território, incluindo até no centro de Lisboa, ter uma adesão em massa para estas iniciativas ou para qualquer iniciativa que tenha a ver com a saúde mental porque, infelizmente, temos ainda muito estigma”.

O facto de o Festival Mental estar no concelho e de ter presente a “Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, é uma estratégia para que se fale sobre saúde mental e para que se perceba como é que nós estamos em termos de território e município, no que diz respeito ao acesso a cuidados de saúde mental, à prevalência destas problemáticas e, as pessoas que veem as notícias de promoção dos eventos, acabam por refletir se tem interesse para elas próprias, ou se tem interesse para pessoas conhecidas”. A Vereadora da Ação Social e Saúde defende que este tipo de evento é uma forma de “criar um momento para o diálogo e para uma conversa com especialistas”. E vai mais além, uma vez que relata ter tido conhecimento de pais de alunos que, à luz da vinda do Festival, conversaram entre eles, e que se aperceberam de casos de Bullying ou depressão entre os alunos. 

No evento estiveram ainda presentes entidades como a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, na pessoa de Paula Domingos e, em representação da Coordenação Regional do Norte, esteve Teresa Dolgner.

Se está a passar por um momento difícil, existem linhas de apoio: 1411 – Linha Nacional de Prevenção do Suicídio (gratuita, 24h); 800 209 899 – SNS 24 Voz de Apoio Psicológico (gratuito); 213 544 545 – SOS Voz Amiga (15h30 – 00h30); 808 237 327 – Conversa Amiga (15h – 22h); 228 323 535 – Telefone da Amizade (16h – 22h).

 

Ângela Vermelho

Fotos: Ângela Vermelho e Festival da Saúde Mental