Festa da Literatura percorre Chaves e leva cultura a todos os públicos

Sob o lema “Toda a arte é uma forma de literatura”, inspirado em Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), a IX Festa da Literatura de Chaves (FLIC) iniciou na quinta-feira, 13 de novembro, com um conjunto de atividades desenvolvidas em Chaves. O evento é organizado pelo Rotary Club de Chaves, Via XVII - Grupo de Artes e Letras e Universidade Sénior de Rotary de Chaves, em colaboração com o Município, no âmbito do Protocolo de Colaboração de Desenvolvimento Cultural

O salão Nobre do Rotary Club de Chaves foi o palco escolhido para dar início a esta festa das ‘letras’, com uma sessão de abertura que contou com a presença da Presidente do Rotary Club de Chaves, Manuela Pais, do Vice-presidente da Câmara Municipal de Chaves, Tiago Caldas, de Ernesto Salgado Areias, Presidente da Comissão executiva do evento, do Presidente da Assembleia Municipal de Chaves, Anselmo Martins e de António Sousa e Silva, responsável pela oração de Sapiência.

O momento foi abrilhantado pela declamação de dois poemas por Manuela Rainho e António Reis Morais. Seguiu-se a intervenção de Ernesto Areias, Manuela Pais e de Tiago Caldas. O público assistiu à atuação da Tuna da Universidade Sénior do Rotary Club de Chaves e à oração de sapiência por António de Sousa e Silva. Neste espaço foi inaugurada ainda a exposição coletiva dos artistas da VIA XVII “Toda a arte é uma forma de literatura. Fernando Pessoa”, com curadoria de Dulce Claro.

FLIC: A FESTA DOS SENTIDOS

A Festa da Literatura de Chaves iniciou em 2016, tendo sido interrompida em 2021, devido à pandemia da Covid-19. Há nove anos, que a FLIC tem vindo a afirmar a cultura da cidade de Chaves, onde através do trabalho associativo e voluntário, é dado voz aos artistas flavienses.

“Esta é uma festa pacífica, sem conflitos entre editoras, sem ideias de negócios, sem disputas entre empresas que representam os escritores e sem orçamentos elevados”, disse na sessão de abertura Ernesto Areias. O Presidente da Comissão executiva deixou ainda a sugestão de ser instituído em Chaves, o ‘Dia Nacional dos impressores e do livro em Língua Portuguesa’, cidade onde se acredita ter sido impresso, em 1423, o primeiro livro em Língua Portuguesa, o Sacramental, redigido por Clemente Sánchez de Vercial.

Também a Presidente do Rotary Club de Chaves salientou que a força do evento “não está no orçamento”, mas sim, “na capacidade de provocar pessoas, ideias ou lugares e é por isso estamos todos aqui. A FLIC é uma festa da sociedade civil que une escolas, universidades, instituições, empresas, leitores e escritores de uma geografia afetiva e cultural”. Manuela Pais revelou ainda que a FLIC é uma “ponte entre gerações, territórios e linguagens”, que leva a cultura às salas de aula, aos quartéis, à prisão, às termas, ao museu, à Universidade Sénior e às praças da cidade. “A FLIC é celebração, música, poesia, fado e exposições, que ampliam a palavra dita e escrita”, terminou por dizer a Presidente do Rotary.

O Vice-presidente da Câmara Municipal, na sua intervenção começou por agradecer ao Rotary Club de Chaves e à Universidade Sénior a realização do evento, demonstrando “total apoio” da autarquia para a próxima edição. “Aquilo que assistimos hoje é o empoderamento por parte da comunidade, neste caso do Rotary e da Universidade Sénior, de realizarem a Festa da Literatura, que demonstra claramente a vitalidade da nossa comunidade. A FLIC tem uma vocação especial para a inclusão assumindo-se claramente como um projeto de democratização cultural na sua forma mais nobre. A literatura nesta festa é tratada como uma ferramenta pedagógica de intervenção social que devemos valorizar e enaltecer e, a prova real disso é que a FLIC leva ao debate e leva o livro à reflexão e ao imaginário”.

A festa itinerante percorre o concelho num roteiro cultural que passou na quinta-feira, 13 de novembro, pelas Termas de Chaves com mesa dedicada a Miguel Torga, com o orador Manuel Araújo, pelo Estabelecimento Prisional de Chaves com os oradores, José Maldonado, Ernesto Areias e Gilberto Bandeira que refletiram sobre ‘Os tempos que há dentro do tempo’ e ainda pelo Regimento de Infantaria nº 19, com uma mesa orientada pelos oradores Teresa Nobre e Artur Afonso, com o tema ‘Quando as palavras e o espaço se fazem arte’.

No salão Nobre do Rotary decorreram sessões de apresentação de livros infantojuvenis dos autores, Carla Anjos, Inês Cardoso, Sílvia Alves e Marcos Barroco. Este dia encerrou com a atuação do Coro Infantil do Agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins com coordenação do professor Fonseca.

A FLIC esteve ainda na sexta-feira, 14 de novembro, na Escola Superior de Hotelaria e Bem-Estar, do Instituto Politécnico de Bragança (Ernesto Areias e João Madureira), na Escola Profissional de Chaves (Maria Nobre e Joana Carvalho), e passou pelas escolas Dr. Júlio Martins (Minês Castanheira e Raquel Patriarca) e Dr. António Granjo (Domingos Lobo). O evento esteve ainda no Centro de Formação de Chaves (Leon Machado e Manuel Catumba), e chegou a cerca de 1700 alunos. Neste dia, e no salão Nobre do Rotary decorreu uma sessão de apresentação de livros e mesas onde foram abordados os temas: ‘Está tudo nas palavras’ (João Batista, Paula Chaves, Mariana Carvalho e Tiago Ribeiro; ‘Também com versos se escrevem cartas’ (Minês Castanheira e Raquel Patriarca); ‘A ressonância dos safanões ainda se sente nos interstícios das pedras’ (Domingos Lobo e Fernando Dacosta). O dia terminou com a atuação da Tuna Académica da Universidade Sénior das Terras de Aguiar (USTAG).

No sábado decorreu um passeio histórico-literário sobre a República e o Reviralho em Chaves, por Nuno Pizarro, com visita a dois centros republicanos. De tarde, o Museu das Termas Romanas foi palco da atuação da Tuna da Rotary, da mesa 14 ‘A literatura numa folha de Excel’ (Cristina Azevedo à conversa com o jornalista Diogo Caldas), atuação da Chus Pato & Jorge Melícias (poetas), e da reflexão sobre o tema ‘ O meu tempo já não é tempo ou ainda é tempo’ pelos oradores Carlos Magno, Cristina Pizarro, Domingos Lobo, Fernando Dacosta e Rúben Sevivas, terminado com a atuação do Grupo de Fado de Coimbra ‘Trovas e Cantigas’.

A 9ª edição da Festa da Literatura de Chaves passou ainda por Vidago e termina no dia 22 de novembro em Vilarelho da Raia, com o tema ‘Cultura no Espaço Rural’, onde será discutido os ‘Caminhos de Santiago e caminhos do futuro’, simbolizando a partilha e o diálogo que a iniciativa cultural promove há quase uma década, com os oradores António Montalvão, J.Carlos Sanches e José Maldonado. Haverá ainda atuação da Tuna do Rotary e da Grupo de Cantares de Vilarelho da Raia.

Sara Esteves

Fotos: Carlos Daniel Morais