Festival da Saúde Mental traz literacia em forma de arte a Vila Pouca de Aguiar
O Mental, Festival de Saúde Mental, Cinema, Artes e Informação, esteve em Vila Pouca de Aguiar nos dias 12 e 13 de setembro, após uma primeira edição bem-sucedida em 2023. Tem como objetivo veicular informação sobre saúde através do cinema para a fazer chegar de forma mais atrativa e impactante.
Ana Pinto Coelho é Diretora e Curadora do Festival de Saúde Mental que irá
completar uma década de atividade consecutiva em 2026. O intuito do Festival é
“fazer a promoção, prevenção e combate ao estigma e literacia em saúde mental através
da área da cultura, ou seja, usar a cultura como plataforma para a promoção da
saúde mental nas suas múltiplas disciplinas”. Na prática, o evento
concretiza-se através do cinema, da dança, do teatro, da música, ou através de
palestras, workshops e atividades que são adaptados consoante a idade do
público a que se destinam, em consonância com as entidades locais e com a coordenação
nacional das políticas de saúde mental. “Tem de ser um festival dinâmico”,
frisa Ana Pinto Coelho.
“Temos que ir junto às comunidades”
A diretora do Festival de Saúde Mental refere que em
Lisboa existe uma “configuração de festival bastante alargada, mas nos festivais
itinerantes também vai sendo adaptado”. No caso de Vila Pouca de Aguiar,
selecionaram o cinema, considerado o “coração do Festival”, como forma de
difundir a informação pelos interessados que se podiam juntar às atividades de
forma gratuita, através de mostras de curtas-metragens e filmes internacionais,
e das M-Talks, ou seja, conversas temáticas. Todos os anos selecionam temas
diferentes que reproduzem em livro, em edição própria, com a chancela do
Festival Mental abrangendo diversas questões.
Em relação à importância do festival nas comunidades
fora dos grandes centros, a responsável acredita que mais do que importante, é
“uma urgência e devia ser uma coisa fixa, em que todos os anos já se sabe que
naquela data o festival vai chegar”. A Curadora do Festival explica que este
não é “um festival para a doença mental e sim de promoção da saúde no geral”.
Na sexta-feira, dia 12 de setembro, as
curtas-metragens foram direcionadas aos jovens, com conteúdos adaptados a esta
faixa etária. Apesar de serem filmes de curta duração com alguma diversão e
humor, “está-se a falar de saúde mental em termos de promoção e de prevenção,
de forma leve, pedagógica e interventiva, mas ao mesmo tempo desconstruída”.
Posteriormente houve um momento de perguntas e respostas com o psicólogo clínico
Sérgio Viana e com o produtor João Gata.
Uma outra vertente que tem sido explorada é o M-Natura
“que é o Festival Mental fora de portas, fora de sala e de auditórios, para
haver este paralelo, não só com cultura, mas com o ambiente (…) em que o
contacto com a natureza funciona como uma promoção da nossa saúde mental”.
Assim sendo, o dia 13 de setembro iniciou com a atividade ao ar livre “Emoções
na Natureza: Stop Motion da Saúde Mental” que envolvia uma caminhada e um
workshop. Da parte tarde seguiu-se uma nova mostra internacional de
curtas-metragens, já dirigida a adultos que culminou na M-Talk: Bullying, Luto
e Saúde Mental. Sob a moderação de Rita Santos, Jornalista, estiveram como
convidados nesta conversa Sérgio Viana, Psicólogo Clínico, Ricardo Barroso, Psicólogo
Clínico e Professor Universitário, Hugo Ferreira, Técnico Superior de Intervenção
Cocial, e Vítor Leite, Pedopsiquiatra.
O Psicólogo Clínico Sérgio Viana é também
representante da Ordem dos Psicólogos Portugueses no Festival e selecionador do
mesmo, e faz um paralelo entre a saúde mental e as artes. “As artes são um
veículo, por natureza e bastante nobre, para conseguir transmitir tudo o que
nós pensamos, e são também uma ferramenta de sensibilização que permitem, pela
criatividade, explanar e exprimir o que estamos a sentir e a pensar”. Sérgio
Viana avança ainda que é essencial “perceber qual é o impacto das emoções do
nosso dia-a-dia (…) e passar a mensagem, para quem está a ver, que se sinta identificado
e também se sinta informado, porque isto também é um exercício de literacia”.
Perante a temática do suicídio, abordada no Festival,
para o Psicólogo Clínico é perentório em defender a “sensibilização e a literacia”
uma vez que “temos uma taxa de suicídio muito elevada”. Reforça que, na questão
do suicídio ou intenção suicida, “temos que falar sobre ela para perceber o que
é, porque quanto menos falamos, menos as pessoas estão informadas e têm que ser
sensibilizadas, porque cada de nós pode passar por um momento desses”. Sérgio
Viana defende ainda que “falar de suicídio é encontrar soluções para prevenir,
ou evitar que se chegue a um patamar em que surge como uma opção”. Na opinião
do Psicólogo Clínico, “o Festival Mental tem tido o condão de conseguir, cada
vez mais, sensibilizar e acabar com os estigmas sobre problemas psicológicos” e
recorda que é preciso “praticar a empatia” para com o outro e procurar ajuda
médica quando é necessário.
Manuela Castanheira, é Vereadora da Ação Social e Saúde
do Município, e como formação profissional é Médica de Família. Segundo a
Vereadora, “é difícil, em qualquer território, incluindo até no centro de
Lisboa, ter uma adesão em massa para estas iniciativas ou para qualquer
iniciativa que tenha a ver com a saúde mental porque, infelizmente, temos ainda
muito estigma”.
O facto de o Festival Mental estar no concelho e de
ter presente a “Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, é uma
estratégia para que se fale sobre saúde mental e para que se perceba como é que
nós estamos em termos de território e município, no que diz respeito ao acesso
a cuidados de saúde mental, à prevalência destas problemáticas e, as pessoas
que veem as notícias de promoção dos eventos, acabam por refletir se tem interesse
para elas próprias, ou se tem interesse para pessoas conhecidas”. A Vereadora
da Ação Social e Saúde defende que este tipo de evento é uma forma de “criar um
momento para o diálogo e para uma conversa com especialistas”. E vai mais além,
uma vez que relata ter tido conhecimento de pais de alunos que, à luz da vinda
do Festival, conversaram entre eles, e que se aperceberam de casos de Bullying
ou depressão entre os alunos.
No evento estiveram ainda presentes entidades como a
Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, na pessoa de Paula Domingos
e, em representação da Coordenação Regional do Norte, esteve Teresa Dolgner.
Se está a passar por um momento difícil,
existem linhas de apoio: 1411 – Linha Nacional de Prevenção do Suicídio
(gratuita, 24h); 800 209 899 – SNS 24 Voz de Apoio Psicológico (gratuito); 213
544 545 – SOS Voz Amiga (15h30 – 00h30); 808 237 327 – Conversa Amiga (15h –
22h); 228 323 535 – Telefone da Amizade (16h – 22h).
Ângela Vermelho
Fotos: Ângela Vermelho e Festival da Saúde Mental
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15/09/2025
Sociedade
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